Zequinha começa a desbravar o país

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Agora Zequinha tinha empresário e mais do que isso, precisava achar um novo clube para jogar, já que onde ele atuava iniciava as obras para virar um shopping center.

Enquanto isso, Teixeirinha acionava seus contatos para ver onde Zequinha teria mais chances de jogar como titular e qual time jogaria os campeonatos mais promissores. Depois de muita conversa, ele chegou em uma conclusão, iria levar para um time próximo da capital (cerca de 80km), lá Zequinha seria quase titular absoluto e o time tem conseguido o direito de disputar dois campeonatos nacionais de muita visibilidade, além de um torneio nos EUA.

Teixerinha chegou para contar a novidade para a família, com todo o discurso pronto e sobre a importância que aquilo teria para Zequinha na sua ainda iniciante carreira como jogador, Seu Silva achou tudo maravilhoso, ficou empolgado, pensou em mudar de cidade para acompanhar o filho e a alegria que seria pensar que o filho iria para o exterior.

Foi quando veio o primeiro conflito, Dona Marluce não gostou da ideia de mudar de cidade, ficar longe da família ou então deixar o filho ir sozinho para outra cidade, após Teixeirinha ir embora, a discussão começou dentro de casa, depois de muitos argumentos de ambos os lados chegaram a uma conclusão, Seu Silva iria com Zequinha para conhecer a cidade e ver se era possível se estabilizar por lá, depois decidiriam se mudariam em definitivo.

Só depois de muita discussão que se deram conta que ninguém tinha contado para Zequinha que ele iria embora da cidade, que ficaria longe de seus amigos, da escola e de tudo que estava acostumado.

Zequinha demorou para compreender exatamente aquela decisão, até porque a rotina dos últimos anos entre escola-time tinha sido tão sacrificante que os amigos, o bairro e etc tinham ficado em um imaginário distante, ele já sentia que aquilo não fazia mais parte dele.

Zequinha continuava obcecado por entender o que seu pai tinha dito, sobre o futebol ser aquilo é mais um monte de coisa, então ir para outra cidade fazia parte desse entendimento, o menino tinha cada vez mais certeza de que entender aquela sentença que Seu Silva proferiu era a razão dele. Portanto, acho normal a mãe querer tempo para definir onde moraria em definitivo.

O que Dona Marluce não sabia era que pelos próximos vinte anos, o que eles menos teriam era um lugar fixo para chamar de lar e que aquela cidade próxima da capital surgiria como um porto seguro mais para frente.

Capítulo 5 – Zequinha e seu primeiro empresário

Zequinha e sua primeira peneira

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Zequinha chegou na peneira, logo de cara percebeu que o ambiente era diferente, que a amizade e clima amistoso ficaram para trás e meninos com vontade de vencer surgiam.

Para piorar, ele percebeu que não iria necessariamente jogar com os amigos, eram muitos meninos, talvez mais de 100, ele pensava, na verdade eram 600 só naquele dia. O clube receberia naquela peneira cerca de 10.000 crianças entre 08 e 11 anos. E só escolheriam 30 meninos, 9970 crianças teriam sua primeira ou outra frustração na sua vida.

Zequinha não sabe ainda, mas o não ainda fará parte do seu dia a dia, o mundo fora da rua perto da casa vai se mostrando mais difícil do que ele imaginava.

Começa a primeira peneira, Zequinha está escalado para o terceiro jogo, no primeiro Jão e Carlos jogaram, Jão que era mais alto foi para a zaga, mas sofreu muito com um menino rápido de pernas quase invisíveis de tão magras e rápidas que passavam por Jão quase que instantaneamente que a bola chegava.

Carlos ficou ali no meio no time contrário de Jão, perto da defesa, um volante, não fez feio, mas também não teve destaque, cumpriu o que precisava e só, até porque ele percebeu que não consegui ficar correndo aquele campo todo, a rua era muito mais fácil, aquele campo era grande demais, era melhor ficar por ali quietinho na dele.

Vem o segundo jogo e Gigante e Pedrinho vão jogar juntos e no ataque do time de colete vermelho. O jogo transcorre bem, até que Pedrinho pega uma bola pela ponta esquerda e decide lançar Gigante na corrida, o menino sai em disparada e inocentemente não percebe quando o zagueiro rival percebe que não vai chegar na bola, desisti e vai direto no corpo de Giganta para fazer a falta e parar o lance.

A turma da rua não entende nada, aquilo era impossível, não existia isso no futebol deles, o futebol era sempre jogado, se o lance foi bem feito, deixa ele acontecer, mérito de quem executou. Algumas coisas começam a ferver na cabeça dos meninos, Zequinha percebe que a rua é um ambiente muito melhor para o futebol.

Enfim, chega a vez de Zequinha, o menino cai no time Azul dessa vez e vai para o jogo, fica na ponta direita, apesar de canhoto, prefere ali, porque fica mais fácil para chutar. O jogo começa e ele sai correndo por todo o campo para conseguir pegar a bola, as dimensões do campo, pouco importam para ele, ele quer jogar bola, quer brincar, já estava ansioso demais.

Zequinha na primeira vez que recebe vai para cima do marcador e dribla fácil, acha engraçado, ri e continua em frente, não olha muito para o lado para ver o seu lateral aparecendo, vai para cima do volante e dribla também, a bola se adianta e o zagueiro manda a bola para longe. Zequinha ainda não se importa e volta correndo para esperar a bola de novo.

E ela vem, agora ele decide tocar a bola no meio com um menino, manda para ele e corre, assim como faz com Pedrinho, já esperando ela lá na frente para tentar fazer o gol entre os chinelos, só que dessa vez a bola não vem, na verdade, ela já está lá com o lateral esquerdo que tenta avançar, Zequinha para e fica sem entender muito, o lance segue e ele não está na área para aproveitar o cruzamento.

A peneira segue com Zequinha ora se divertindo sozinho, ora desiludido em grupo. Por fim, o olheiro apita e acaba, Zequinha sai achando tudo muito estranho, senta do lado de fora e decide falar com seu pai, Seu Silva olhava tudo atentamente e não dizia nada para nenhum dos meninos, assim como Adenor que apenas trocava poucas ideias com o próprio Silva.

Zequinha pergunta: Pai, o que futebol na verdade? É o que eu brinco na rua ou esse aqui?

E eis que Seu Silva responde mesmo que aquilo ainda fosse distante para uma criança de 9 anos: Zeca, futebol é tudo isso e mais um monte de coisa, futebol é algo capaz de fazer você sentir as emoções mais intensas tanto as boas quanto as ruins, futebol é algo que não tem muita explicação, tem sensação.

Zequinha ouviu, não conseguiu captar muito bem, ficou um pouco confuso, mas como o dia estava estranho, preferiu continuar em silêncio por um momento.

Por fim, todas as peneiras acabaram e no fim, Carlos foi chamado para a segunda etapa, somente ele, outros receberam um duro não.

Zequinha nem ligou, a única coisa que ele sabia é que ele queria jogar mais, tentar mais, para entender realmente o que é  o futebol?

Capitulo 1 – Zequinha e o futebol de rua

Capítulo 3 – Zequinha, enfim aprovado

Zequinha e o futebol na rua

 

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Zequinha era o típico menino que vivia na rua jogando bola, perto da sua casa tinha uma rua que passava pouco carro, então era lá que ele se reunia com a turma e começavam a jogar bola.

Já começava pelo famoso par ou impar, com discussão de quem alguém segurou a mão para ganhar, ou mesmo quem cederia o chinelo para fazer de gol, porém tudo seguia e os times estavam prontos. Com possíveis ajustes, de passar o mais fraco para o time que estivesse mais forte para equilibrar.

O jogo começava e raramente aconteciam faltas, era disputado, era brincadeira, mas tinha respeito, ninguém ia querer machucar ninguém, todos eram amiguinhos. A única discussão era com aquele que ficava protegendo o gol, sempre alguém dizia que não valia ficar tanto tempo dentro “do gol”, que tinha que ter uma distância.

E assim, seguia a tarde toda com alguns ralados no joelho, muitas tampas de dedo perdida e algum vencedor após o famoso “quem fizer ganha”, independente do placar do jogo naquele momento.

Zequinha sempre viveu em uma família de boleiros e seu destino não poderia ser diferente, em determinado momento ia ser levado para o teste de fogo, ir para a peneira de algum clube grande. Zequinha já tinha seus 9 anos e na escola os primeiros recados do professor bateram como música no ouvido do pai, “o menino leva jeito, hein Seu Silva, tá na hora de levar ele para treinar em algum lugar”.

Seu Silva conversou com Dona Marluce (sua esposa) e decidiram que iriam levar o menino para ele ter uma chance em alguma peneira. E assim, foram atrás de uma chuteira, um meião e um calção para ir a peneira, essas despesas eram totalmente fora do orçamento da família Silva, mas quais pais não fazem esforços sobre-humanos para agradar seus filhos.

Seu Silva fez a inscrição do filho, só que o “evento” ganhou repercussão na rua e não mais só Zequinha iria, mas Carlos, Gigante, Pedrinho e Jão também se animaram e iriam participar da peneira. Aquele mês passou com a criançada polvorosa brincando na rua, imaginando como seria a peneira e qual a consagração de cada um.

Veio o final de semana esperado e Seu Silva junto com Adenor, pai de Pedrinho, se organizaram para levar a trupe toda para a peneira, Adenor tinha uma Kombi que fazia carreto, as mães de todos eles se organizaram com os lanches e lá se foram os dois adultos com as cinco crianças rumo a peneira.

continua…

Capítulo 2 – Zequinha e sua primeira peneira

Minha idéia é contar em forma de conto, um pouco de como o futebol faz parte do nosso dia a dia e como não valorizamos da maneira adequada a formação dele como um programa social. A história do Zequinha terá alguns capítulos que divulgarei provavelmente as terças, com exceção de hoje, espero que gostem.