E a rotina de treinamento começou a cansar Zequinha, quando foi aprovado, não tinha ainda a real noção do que seria ficar treinando em um clube, achou que tudo era jogo, que era só dividir os times e ir jogar bola.
Mas não, tinha treino de finalização, treino de toque de bola, treino físico, treino, treino e treino.
Zequinha ficava exausto e ainda por cima, quando chegava em casa, só tinha tempo de tomar banho, almoçar e ir para a escola, quando chegava da escola, era jantar, fazer lição de casa, outro banho e dormir, porque o dia ia começar cedo no outro dia.
Depois de quase seis meses, nessa rotina surgiu um campeonato para eles participarem, aquela euforia e um pedido do clube para que os pais comparecessem no dia seguinte para uma conversa com o treinador sobre como funcionaria o campeonato (em português claro, quanto ficaria para cada menino participar, a título de ajuda de custo).
E lá se foi Seu Silva para conversar com o treinador, entre uma promessa e outra, das oportunidades de Zequinha no campeonato, das dificuldades que eles tinham para contratar ônibus, lanche e hospedagem para os meninos, veio o pedido, R$ 150,00 para a inscrição de Zequinha. Seu Silva não demonstrou nenhuma reação na hora, mas sabia que esse dinheiro não existia em lugar nenhum das suas economias.
Voltou para casa em silêncio, apenas dividindo com Zequinha que ele precisava escutar o que o treinador diz e que não necessariamente ele ia jogar sempre, porque todo mundo precisa jogar.
Seu Silva chegou e conversou com a mulher sobre o dinheiro, começaram a fazer conta e conseguiram juntar uma parte, quase metade, mas o restante não tinha mas de onde tirar, esse dinheiro já iria fazer falta para comprar a mistura do resto do mês.
Foi quando Marciel, dono do armazém do bairro apareceu na casa deles para bater papo, e logo percebeu a cara de desânimo do casal, quando descobriu o motivo, tratou de promover uma vaquinha no bairro, onde todo mundo poderia ajudar com pouquinho e não ficaria pesado para ninguém.
A vaquinha foi um sucesso, Seu Silva precisou colocar muito menos do que aquele dinheiro que ele tinha reunido, na verdade, quase não precisou tirar dinheiro do bolso e saiu feliz para fazer a inscrição de Zequinha.
Inscrição feita, restava esperar as semanas avançarem para chegar o dia do campeonato.
Chegou o mês do campeonato, e lá foram todos os meninos para a disputa, o time foi bem, entre uma boa vitória, algum jogo mais complicado, o time chegou as quartas de final e acabou perdendo para um time de empresário, uma vitória firme por 4×2, onde Zequinha marcou um dos gols do seu time.
Ali, já tiveram as primeiras sondagens despretensiosas sobre quem era o menino, e uma pergunta que começaria a incomodar o Seu Silva, “quem era o empresário do camisa 17?”.
Seu Silva percebia que o futebol tinha alguns nuances também ruins, e sua frase fazia mais sentido ainda, inclusive para ele, o futebol é isso e mais um monte de coisas.
E para Zequinha, aquele mês foi divertido, mas foi crucial para tornar o ano letivo complicadíssimo na escola, teria que se dedicar muito para passar de ano e veria menos ainda seus amigos, pois usaria os finais de semana para recuperar o tempo perdido na escola.
Ele não percebeu de imediato, mas escolher entender sobre futebol ia te fazer perder algo que ele nunca mais teria, sua infância.
Capítulo 3 – Zequinha, enfim aprovado
Capítulo 5 – Zequinha e seu primeiro empresário