Zequinha chegou na peneira, logo de cara percebeu que o ambiente era diferente, que a amizade e clima amistoso ficaram para trás e meninos com vontade de vencer surgiam.
Para piorar, ele percebeu que não iria necessariamente jogar com os amigos, eram muitos meninos, talvez mais de 100, ele pensava, na verdade eram 600 só naquele dia. O clube receberia naquela peneira cerca de 10.000 crianças entre 08 e 11 anos. E só escolheriam 30 meninos, 9970 crianças teriam sua primeira ou outra frustração na sua vida.
Zequinha não sabe ainda, mas o não ainda fará parte do seu dia a dia, o mundo fora da rua perto da casa vai se mostrando mais difícil do que ele imaginava.
Começa a primeira peneira, Zequinha está escalado para o terceiro jogo, no primeiro Jão e Carlos jogaram, Jão que era mais alto foi para a zaga, mas sofreu muito com um menino rápido de pernas quase invisíveis de tão magras e rápidas que passavam por Jão quase que instantaneamente que a bola chegava.
Carlos ficou ali no meio no time contrário de Jão, perto da defesa, um volante, não fez feio, mas também não teve destaque, cumpriu o que precisava e só, até porque ele percebeu que não consegui ficar correndo aquele campo todo, a rua era muito mais fácil, aquele campo era grande demais, era melhor ficar por ali quietinho na dele.
Vem o segundo jogo e Gigante e Pedrinho vão jogar juntos e no ataque do time de colete vermelho. O jogo transcorre bem, até que Pedrinho pega uma bola pela ponta esquerda e decide lançar Gigante na corrida, o menino sai em disparada e inocentemente não percebe quando o zagueiro rival percebe que não vai chegar na bola, desisti e vai direto no corpo de Giganta para fazer a falta e parar o lance.
A turma da rua não entende nada, aquilo era impossível, não existia isso no futebol deles, o futebol era sempre jogado, se o lance foi bem feito, deixa ele acontecer, mérito de quem executou. Algumas coisas começam a ferver na cabeça dos meninos, Zequinha percebe que a rua é um ambiente muito melhor para o futebol.
Enfim, chega a vez de Zequinha, o menino cai no time Azul dessa vez e vai para o jogo, fica na ponta direita, apesar de canhoto, prefere ali, porque fica mais fácil para chutar. O jogo começa e ele sai correndo por todo o campo para conseguir pegar a bola, as dimensões do campo, pouco importam para ele, ele quer jogar bola, quer brincar, já estava ansioso demais.
Zequinha na primeira vez que recebe vai para cima do marcador e dribla fácil, acha engraçado, ri e continua em frente, não olha muito para o lado para ver o seu lateral aparecendo, vai para cima do volante e dribla também, a bola se adianta e o zagueiro manda a bola para longe. Zequinha ainda não se importa e volta correndo para esperar a bola de novo.
E ela vem, agora ele decide tocar a bola no meio com um menino, manda para ele e corre, assim como faz com Pedrinho, já esperando ela lá na frente para tentar fazer o gol entre os chinelos, só que dessa vez a bola não vem, na verdade, ela já está lá com o lateral esquerdo que tenta avançar, Zequinha para e fica sem entender muito, o lance segue e ele não está na área para aproveitar o cruzamento.
A peneira segue com Zequinha ora se divertindo sozinho, ora desiludido em grupo. Por fim, o olheiro apita e acaba, Zequinha sai achando tudo muito estranho, senta do lado de fora e decide falar com seu pai, Seu Silva olhava tudo atentamente e não dizia nada para nenhum dos meninos, assim como Adenor que apenas trocava poucas ideias com o próprio Silva.
Zequinha pergunta: Pai, o que futebol na verdade? É o que eu brinco na rua ou esse aqui?
E eis que Seu Silva responde mesmo que aquilo ainda fosse distante para uma criança de 9 anos: Zeca, futebol é tudo isso e mais um monte de coisa, futebol é algo capaz de fazer você sentir as emoções mais intensas tanto as boas quanto as ruins, futebol é algo que não tem muita explicação, tem sensação.
Zequinha ouviu, não conseguiu captar muito bem, ficou um pouco confuso, mas como o dia estava estranho, preferiu continuar em silêncio por um momento.
Por fim, todas as peneiras acabaram e no fim, Carlos foi chamado para a segunda etapa, somente ele, outros receberam um duro não.
Zequinha nem ligou, a única coisa que ele sabia é que ele queria jogar mais, tentar mais, para entender realmente o que é o futebol?
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